Mulheres, Cidades, Territórios
- EN.T.RE
- 6 de dez. de 2024
- 4 min de leitura

Em Mulheres, Cidades, Territórios, terceira temporada do podcast Ningún Lunes Sin Pensar, percorremos os temas corpo-território com a Katú Mirim, da luta pelo direito à moradia com a Graça Xavier, da ação comunitária pela ocupação do espaço público com o Coletivo Preta Velha, da construção de políticas públicas urbanas voltadas às atividades do cuidado com a Marisol Cabrera, e da representatividade política das mulheres com a Yasmyn Bentes. Todos os episódios têm como fio condutor uma pergunta: como seria uma cidade feita por elas e as mulheres do seu entorno?
Suas falas levam a imaginar um horizonte utópico, enquanto uma possibilidade. E, portanto, não é só uma cidade pensada para o futuro, mas uma cidade onde elas estão atuando em práticas que as permite alterar algumas condições às quais estão submetidas. Elas já produzem a cidade do horizonte utópico que pensam e gostariam que fossem diferentes. Mudam o entorno, a vizinhança, e assim concretizando o que elas colocam lá na frente como futuro, mas que na verdade está aqui, é agora, é o presente.
Há uma conexão bem importante com o Paulo Freire da esperança e do esperançar. O imaginar aqui é uma ação já concreta, apesar de parecer utópico, é a força que elas têm nas próprias falas, nas atitudes, em pôr a mão na massa e de pensar o imaginar como aqui e agora, com reflexos lá na frente.
Para Bell Hooks, a esperança é uma ação coletiva que permite a criação de comunidades e se opõe à humilhação dos sistemas opressores. Então é isso que as mulheres ouvidas ao longo desta temporada estão fazendo o tempo todo. É como uma pulsão de vida, resistência e insistência.
É preciso reimaginar cidades ou futuros possíveis para que as cidades sejam mais inclusivas ou verdadeiramente inclusivas. E essa visão pode soar utópica, talvez, mas é uma visão extremamente necessária e se pauta a partir de valores feministas, que se estruturam por e para o coletivo.
O imaginário não é uma projeção que você faz e que você fixa, mas é uma construção de imagens que pode se desmantelar e que precisa ser reatualizada nesse encontro com os outros, com os diferentes, com as diversidades. Isso se conecta com uma ideia que foi a mais repetida nos episódios que é: uma cidade feita por mulheres é uma cidade que escuta.
E o que é essa escuta, essa abertura para as outras pessoas? É considerar as pessoas, ser afetada por elas, ser transformada a partir desse encontro, dessa relação. E aí imaginar-cidade a partir dos efeitos desse encontro.
Essa cidade feminista é justamente uma cidade aberta para a diversidade e pluralidade. Ela é inclusiva, igualitária, equitativa e múltipla. Não é uma cidade que impõe uma perspectiva, mas uma cidade que acolhe essa diversidade a partir de um procedimento de escuta. E por isso é uma cidade que se forma e se transforma. Transformação, junto com escuta, foi um conceito muito apresentado ao longo da temporada pelas mulheres escutadas nessa temporada.
Todas elas estão de alguma forma no que se pode chamar de espaços de contestação. Produzir política também é estar nos espaços de contestação. Todas essas mulheres estão produzindo políticas - políticas da vida cotidiana- nas suas ações e práticas. Todas estão na luta por esse horizonte utópico que se almeja, e que de certa forma resulta numa transformação na forma como a política urbana é desenvolvida e é executada atualmente.
São as mulheres quem sabem o que a cidade precisa, o que o entorno precisa, porque é ela que está cuidando das filhas e filhos, das idosas e idosos, de todo mundo. Por isso que ela sabe que a rua tem buraco, que o transporte não está funcionando. Assim, através desse olhar, ela consegue imaginar diferente, imaginar uma cidade que seja para todas, todos e todes.
Essa cidade já está acontecendo em muitos lugares e é coletiva por excelência. Pode ser que de uma forma não tão expressiva quanto se gostaria, mas ela já é!
Katú Mirim, Graça Xavier, o Coletivo Preta Velha, Marisol Cabrera e Yasmyn Bentes ao longo dessa temporada, abordam esses conceitos tratados até aqui. Elas falam de coletividade, elas falam de consciência de classe, elas falam de interseccionalidade, elas falam de inclusão, elas falam de cuidado. E é isso. Essa cidade já existe!
Ouvir mulheres que transformam o mundo a partir das suas práticas cotidianas foi engrandecedor. O horizonte utópico, da radical transformação social, só pode ser alcançado se no aqui e agora houver práticas como as que ouvimos neste podcast. E compreender que as mulheres estão nesse lugar central é muito potente.
Mulheres, Cidades, Territórios é um convite a (re)imaginar cidades!
A realização de Mulheres, Cidades, Territórios é do EN.T.RE - Grupo de Pesquisa Encontros, Territórios e Redes.
O Ningún Lunes Sin Pensar é um espaço de debates do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana da PUCPR. Procure pelas outras temporadas e pelos outros formatos do evento nos tocadores de podcast e no YouTube.
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