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EN.T.RE na X CLACSO: uma semana de diálogos, aprendizagens e cuidado em Bogotá

  • Foto do escritor: Grupo EN.T.RE Estudos
    Grupo EN.T.RE Estudos
  • há 3 dias
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Atualizado: há 2 dias

Entre 9 e 13 de junho de 2025, nosso grupo de pesquisa esteve em Bogotá para participar da X Conferência Latinoamericana y Caribeña de Ciencias Sociales (CLACSO). A programação se espalhou por três espaços da cidade: Universidad Nacional de Colômbia (UNAL), Ágora Bogotá e Escuela Superior de Administración Pública, num ambiente vibrante de trocas, alianças e práticas de pesquisa comprometidas com a justiça social. 


Foram dias intensos, nos quais apresentamos trabalhos e participamos como ouvintes em diferentes conferências no evento, fizemos visitas técnicas a iniciativas de políticas públicas urbanas feministas em diferentes localidades da capital colombiana, como as Manzanas del Cuidado, pelas quais nos encantamos.


Os três trabalhos que apresentamos são frutos da experiência com a produção dos seis episódios da terceira temporada do Ningún Lunes Sin Pensar, podcast do PPGTU, denominada Mulheres, Cidades, Territórios


Abrimos a semana com duas apresentações na segunda dia 09. O primeiro trabalho, Mulheres e a (re)existência urbana: moradia, infraestrutura e serviços públicos urbanos, analisou experiências de resistência de mulheres negras e periféricas brasileiras frente às desigualdades urbanas. O estudo destaca as atuações do Movimento por Moradia (São Paulo) e do Coletivo Preta Velha (Porto Alegre), como práticas contra hegemônicas de produção do espaço urbano e de fortalecimento comunitário. O segundo, Mulheres, cidades, territórios e o cuidado no centro da pesquisa, abordou os caminhos metodológicos e os aprendizados da terceira temporada do podcast, enquanto prática de produção de conhecimento. Em um cenário acadêmico que ainda valoriza majoritariamente os artigos técnicos, a aposta em mídias acessíveis desafia estruturas rígidas e propõe novas formas de validar o saber.


Na quarta, dia 11, compartilhamos a comunicação Lutas e Identidades Interseccionais em uma Perspectiva Latino-Americana, derivada das entrevistas com Katú Mirim (mulher indígena urbana) e Yasmyn Bentes (mulher negra da Amazônia). Refletimos sobre como raça, etnia, idade e gênero se entrecruzam na produção de desigualdades urbanas. Ambas as entrevistadas, com trajetórias marcadas por resistências e reinvenções, apontaram modos de existir que desafiam as forças hegemônicas que tentam invisibilizar seus corpos-territórios.


Também participamos como ouvintes em conferências que dialogam diretamente com nossas preocupações. Em Políticas hacia la igualdad: género, justicia y cambio social, Ada Colau, Citlalli Hernández e Estela Díaz discutiram como a incidência institucional e as mobilizações sociais precisam caminhar juntas para consolidar direitos, da moradia ao cuidado. Na mesa Cuidados en clave feminista: tensiones, reconocimientos y transformaciones, com Karina Batthyány, Laura C. Pautassi e Silvia Federici, o cuidado como trabalho, suas implicações para a autonomia das mulheres e a necessidade de sistemas públicos de cuidado foi central. Radiografía de las desigualdades: retos y horizontes en el Sur Global, com Amitabh Behar, Laís Abramo e Rodrigo Arim, destacou a urgência de enfrentar a concentração de riqueza e reconfigurar prioridades orçamentárias para políticas universais e redistributivas. Acompanhamos, ainda, a mesa Más allá del claustro. Experiencias alternativas de Co-construcción de conocimientos, onde diferentes pesquisadores da CLACSO discutiram sobre metodologias de produção de conhecimento coletivas entre pessoas acadêmicas e pessoas com as quais pesquisamos.


Um dos pontos altos da agenda foi conhecer as Manzanas del Cuidado, política pública que integra serviços de cuidado, apoio e formação de pessoas que exercem atividades de cuidado. Essas visitas nos permitiram observar como a perspectiva de gênero, que valoriza o cuidado, pode, de fato, se tornar uma política urbana estruturante. Na Manzana del Cuidado de Engativá, acompanhadas por Andrea Camargo Guarín (Instituto de Desarrollo Urbano de Bogotá), vimos como serviços de formação e apoio psicossocial, entre outros, empoderam as mulheres. Outra visita foi à Manzana do Centro, organizada para um grupo da CLACSO, com a presença de Camila Gomes, diretora do Sistema Distrital de Cuidado. Na sexta, novamente com a companhia da Andrea, andamos de metro cable para chegar à Manzana de Cuidad Bolivar e observamos a importância de levar serviços a áreas periféricas. 


Depois de seis dias de intensa programação, podemos sintetizar nossas aprendizagens em três pontos: 1) o cuidado como base teórica e prática na América Latina: A CLACSO mostrou que em muitos contextos (Colômbia e México, por exemplo) o cuidado já é uma categoria analítica, agenda política e infraestrutura urbana consolidada; 2) o Brasil precisa acelerar suas pautas feministas: em contraste com países vizinhos, percebemos uma lacuna de políticas de cuidado no país; e 3) é possível investir no feminismo comunitário como prática de extensão e formação: queremos ampliar e aprofundar temas e práticas feministas nas comunidades onde atuamos. 


Ter tido contato com as experiências locais, a oportunidade de compartilhar nossos resultados e, sobretudo, dialogar com outras pesquisadoras e com elas construir alianças, ampliou os horizontes e as reflexões da nossa agenda de pesquisa, que tem se estruturado a partir de perspectivas feministas, decoloniais e interseccionais para pensar cidade. Finalizamos com o convite: ouça, acompanhe nossas publicações e entre em contato se quiser construir conosco. Porque cidades justas se fazem com escuta, partilha, respeito e cuidado, todos os dias.

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